Histórias Repletas de
Sophie Calle
Tenho na vida dois
caminhos que mantenho em paralelo e que, de vez em quando, se cruzam: a
fotografia e a escrita, seja a primeira tornando-se narrativa, seja a última
parecendo fotográfica ou mesmo ambas no mesmo trabalho mesclando suas singularidades. Assim, ao ouvir falar
de Sophie Calle pela primeira vez poucos anos atrás, imediatamente me
interessei por seu trabalho que se faz valer destes dois e outros recursos
para expressar seus caminhos e descaminhos. Calle é uma personagem que atua no
mundo real com histórias que beiram a irrealidade. A busca de narrativas e
criação de outras dão um contorno diferente a sua vida. Seguir pessoas
desconhecidas, dar atenção aos detalhes e pequenas situações a sua volta e,
sobre tudo, viver circunstâncias inventadas, parece definir a artista plástica francesa
que, ao mesmo tempo em que é capaz de se aventurar no desconhecido, tenta
controlar suas histórias ao criar fábulas a qual segue a risca ou até onde pode
as manipular. Histórias com homens, familiares e coisas vistas de forma
peculiar contadas de forma despudorada, sem medo da exposição. Ou então aqueles
detalhes que acontecem na vida, mas que são deixados de lado ou que apenas são curtidos
no momento e esquecidos no outro, não são abandonados por Calle.
Fotografa,
escreve, vivencia todos esses momentos de forma inusitada. Como ela mesma diz
“tenho medo de perder alguma coisa” e daí não só vive como atrai pessoas e
acontecimentos incomuns, como é o caso, p.ex., do jovem americano que, sem
conhecê-la pessoalmente, pede por carta para viver o luto de seu último romance
em sua cama para aplacar a dor. Calle envia-lhe a cama e recebe notícias
periódicas do restabelecimento do rapaz. Em seguida, sua cama lhe é devolvida...
Diversas outras histórias semelhantes a esta, ou melhor, diferentes de todas as
outras são descritas com detalhes essenciais. Uma vida transformada em exposição
artística, mas segundo ela, não adentra a sua intimidade: “Às vezes, as pessoas acham que
conhecendo meu trabalho estão me conhecendo pessoalmente, mas elas estão
erradas. Eu trabalho apenas com coisas que aconteceram, o que é diferente de
trabalhar com minha verdade e minha realidade. Eu falo de coisas banais e
comuns, como uma separação ou uma vontade de seguir um desconhecido na rua. Não
estou contando a minha intimidade, é um trabalho sobre a vida real”*.
Intrigante, no mínimo... Vale dar uma olhadinha no seu livro aqui lançado em
2009 no âmbito do ano da França no Brasil.
#ficadica
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