A
fotografia, de tão ampla, abrange diversas possibilidades de utilização e uma
delas é a antropologia. Desde o início de sua aparição, a fotografia causou um
grande impacto não só pela, vamos dizer, magia, a capacidade de captar o
exterior em pouquíssimo tempo e com uma fidelidade impressionante, e por isso,
usada como prova de existência, mas também por suas capacidades artísticas já
que é possível encontrar traços do seu autor, o fotógrafo, ou seja, de sua
subjetividade. De
outro lado está a antropologia que exige um processo metodológico de pesquisa
para acontecer um trabalho claro, coerente e, sobretudo, crível. E para a
realização deste trabalho, uma das ferramentas é a fotografia. Segundo Rosane
de Andrade, em seu livro Fotografia e
Antropologia, olhares fora-dentro, a fotografia para os antropólogos é ao
mesmo tempo um instrumento precioso e suspeito no que refere ao rigor como
documento. “A imagem vive essa dicotomia entre o fantástico e o real.
Nesse
sentido, pode-se afirmar que a imagem nunca poderá dizer algo do mundo, que ela
não tem a objetividade necessária para compor um discurso cientifico”. É até
engraçado isso, pois sempre houve uma briga para descolar da fotografia a
imagem de apenas documento e autenticar o seu valor expressivo. Neste livro, a
autora informa que de fato existe certo cuidado da parte dos antropólogos em
usá-la e, ao longo do livro, ela vai confirmando a subjetividade da fotografia,
todavia, demonstra também que a subjetividade do antropólogo permeia o trabalho
que gera, mesmo com todo o rigor técnico: “Antropologia aplicada não é apenas
um meio de ver e registrar é um modo de participar e perceber o outro.” Assim,
este livro acaba tornando-se um grande elogio a expressividade e subjetividade
que a fotografia carrega.
Logo
no texto de entrada, por meio do poema O Fotógrafo, Manoel de Barros dá o tom
do que será a leitura: o invisível sendo fotografado. A partir daí a autora vai
se apoiando em diversos autores, fotógrafos, psicanalistas e filósofos para
mostrar a capacidade de captação do real, mas com uma possibilidade de reinvenção
deste real através do olhar daquele que fotografa conforme as suas escolhas e
recortes. Exemplifica com Verger o processo etnológico e fotográfico deste que
se tornou Fatumbi, o renascido de Ifá, tal era o seu envolvimento com o que
pesquisava.
Adorei
esse trabalho que conjuga tantos autores num trabalho curto (132 páginas),
porém totalmente suficiente e eficiente. Além de um belíssimo trabalho que
denota o amor por ambas as linhas, fotografia e antropologia.
#ficadica.