quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Impressões sobre Livros: Histórias reais


Histórias Repletas de Sophie Calle


Tenho na vida dois caminhos que mantenho em paralelo e que, de vez em quando, se cruzam: a fotografia e a escrita, seja a primeira tornando-se narrativa, seja a última parecendo fotográfica ou mesmo ambas no mesmo trabalho mesclando suas singularidades. Assim, ao ouvir falar de Sophie Calle pela primeira vez poucos anos atrás, imediatamente me interessei por seu trabalho que se faz valer destes dois e outros recursos para expressar seus caminhos e descaminhos. Calle é uma personagem que atua no mundo real com histórias que beiram a irrealidade. A busca de narrativas e criação de outras dão um contorno diferente a sua vida. Seguir pessoas desconhecidas, dar atenção aos detalhes e pequenas situações a sua volta e, sobre tudo, viver circunstâncias inventadas, parece definir a artista plástica francesa que, ao mesmo tempo em que é capaz de se aventurar no desconhecido, tenta controlar suas histórias ao criar fábulas a qual segue a risca ou até onde pode as manipular. Histórias com homens, familiares e coisas vistas de forma peculiar contadas de forma despudorada, sem medo da exposição. Ou então aqueles detalhes que acontecem na vida, mas que são deixados de lado ou que apenas são curtidos no momento e esquecidos no outro, não são abandonados por Calle.


Fotografa, escreve, vivencia todos esses momentos de forma inusitada. Como ela mesma diz “tenho medo de perder alguma coisa” e daí não só vive como atrai pessoas e acontecimentos incomuns, como é o caso, p.ex., do jovem americano que, sem conhecê-la pessoalmente, pede por carta para viver o luto de seu último romance em sua cama para aplacar a dor. Calle envia-lhe a cama e recebe notícias periódicas do restabelecimento do rapaz. Em seguida, sua cama lhe é devolvida... Diversas outras histórias semelhantes a esta, ou melhor, diferentes de todas as outras são descritas com detalhes essenciais. Uma vida transformada em exposição artística, mas segundo ela, não adentra a sua intimidade: “Às vezes, as pessoas acham que conhecendo meu trabalho estão me conhecendo pessoalmente, mas elas estão erradas. Eu trabalho apenas com coisas que aconteceram, o que é diferente de trabalhar com minha verdade e minha realidade. Eu falo de coisas banais e comuns, como uma separação ou uma vontade de seguir um desconhecido na rua. Não estou contando a minha intimidade, é um trabalho sobre a vida real”*. Intrigante, no mínimo... Vale dar uma olhadinha no seu livro aqui lançado em 2009 no âmbito do ano da França no Brasil.
#ficadica

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Impressões sobre Livros: O Instante Contínuo - Geoff Dyer


Quando adentrei o espaço da fotografia como fotógrafa, passei a buscar enquadramentos baseados em alguma estética, a minha estética ou algo que traduzisse o que sentia e que fosse reconhecido como sendo parte de mim. Bem, esse caminho é infinito, pois sempre estamos em busca de algo e nunca nos satisfazemos, ainda bem... Na verdade, parece que de alguma forma buscamos a nós mesmos, ou seja, uma estética da e na vida. Assim, é um trabalho para vida toda e que talvez eu acabe fazendo uso de outros mecanismos que não os fotográficos para realizar esse intento.

De qualquer forma, já não tenho um olhar amador para a fotografia e, por isso, as narrativas fotográficas mudaram de caráter para mim mostrando uma evolução do olhar. Mas é super legal quando encontramos algumas pessoas que não são do meio, no sentido de não estarem envolvidos com a produção fotográfica,  e dedicam-se em analisar e, assim, a dar uma visão diferente da fotografia. É o caso de Geoff Dyer, um escritor britânico, em seu O Instante Contínuo.

Esse livro parte da idéia de que certos temas são recorrentes e comuns a vários fotógrafos. Geoff aborda temas como, p.ex., cegos, mãos, bancos, estradas, janelas, morte etc. e, para isso, segue contando vários causos sobre a vida de alguns dos fotógrafos aqui mencionados. É o caso da ligação entre Paul Strand, Alfred Stieglitz e Georgia O’Keeffe o qual me chamou a atenção no percurso da leitura.

O título tem como contraponto o instante decisivo de Bresson que se tornou guia mestre do fotojornalismo no séc. XX e que consiste em captar em um momento fugidio todo o resumo do acontecimento. Uma narrativa gostosa de seguir, leve em que os assuntos vão se imbricando e, ao mesmo tempo, cheia de insights interessantes. A capa já resume o seu conteúdo ao contrapor três fotos de estrada de autores diferentes, de visões diferentes.
Vale a pena dar uma olhadinha nesse trabalho!

#ficadica

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Impressões sobre Livros: A Fotografia como Arte Contemporânea


O Espaço Artístico da Fotografia

A fotografia sempre sofreu questionamentos em relação a sua capacidade de ser arte. Isso muito pelo fato do uso desta para a documentação topográfica e científica. Além da  questão da fotografia registrar um referente no mundo, ou seja, o que de fato existe ou existiu. Assim, se sua expressividade era possível diante das obras de artes advindas da pintura, desenho etc. diante destas, digamos, restrições criativas. Bem, todos esses conceitos em diversos trabalhos teóricos já são debatidos incansavelmente demonstrando o quanto a fotografia é muito mais abrangente. A fotografia, a meu ver, possui uma especificidade de outra ordem que a difere das artes tradicionais. Além disso, a fotografia é capaz de uma grande abrangência, desde as fotografias caseiras até trabalhos conceituais e criativos que a tem como principal material de base ou mesmo para alimentar e enriquecer o trabalho criativo do artista. Nunca tanto como agora, teóricos trabalham para definir a complexidade do que a fotografia tem em seu arcabouço. Um destes trabalhos é da diretora de criação do Museu da Mídia do Reino Unido, Charlotte Cotton: A Fotografia como Arte Contemporânea.
De uma forma muito leve, apresenta algumas categorias das quais acredita que se dividam os fotógrafos da atualidade, a saber:
Era uma vez: trabalho que encerra em uma única fotografia uma narrativa geralmente ligada a histórias do inconsciente coletivo, fábulas, contos de fadas ou situações que nos faz criar ou pensar em nossa própria narrativa.
Inexpressivas: fotografias que tiram toda a dramaticidade do momento ou da pessoa retratada. São frias e distantes numa tentativa de total neutralidade.
Alguma coisa e nada: uma alteração dos objetos cotidianos recriando uma nova maneira de vê-los. Recolocados, mantêm a realidade física, todavia, abrindo a possibilidade para novas visualidades.
Vida íntima: trabalha a intimidade pessoal do fotógrafo ou das pessoas em torno. Tem um tom espontâneo e confessional. Aqui entra os trabalhos fotográficos domésticos. Uma das principais artistas desta categoria é Nan Goldin.
Momentos na história: na contramão do fotojornalismo, os fotógrafos não trabalham com o momento decisivo, mas com o momento posterior a este. No que sobra ou no que advém do momento de impacto do acontecimento.
Revivido e refeito: a fotografia que recria espaços e momentos já realizados ou trabalhos já consagrados. Uma nova perspectiva para questões culturais. Cindy Sherman e Vik Muniz são mencionados aqui.
Físico e material: a fotografia vista pela sua materialidade, ou seja, sua matéria prima. Pensamentos acerca da película fotográfica e o digital.
Todo esse levantamento é tem como base o capítulo intitulado Se isto é arte, além de uma Introdução que abre todo esse trabalho. Aqui vem toda a contextualização que deu ensejo para o que fotografia é hoje.
Este é uma obra que não trata em profundidade cada fotógrafo, mas proporciona um ótimo material introdutório para cada um deles e um panorama claro e objetivo da fotografia contemporânea.
#ficadica...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Impressões sobre Livros: Instant Light, Tarkovsky e The Polaroids, Kertész



Poucas foram as vezes que dei atenção a Polaroid e me arrependi amargamente, pois hoje, com o seu desaparecimento, não posso experimentar esta, diria, precursora do instantâneo digital... A Polaroid, diferente das digitais, trazia o resultado já impresso em uma “janela” plastificada em cores tênues, com um espaço em branco na parte inferior da foto, que se tornou símbolo da Polaroid... Hoje podemos encontrar programas que tem a intenção de deixar as fotos com a mesma tonalidade e no mesmo formato da Polaroid. Além de toda a tecnologia digital que existe hoje e que cria e faz o novo com cara de antigo e vice-versa. Muitas brincadeiras eram possíveis com essas fotos, pois era fácil tirar a película plástica que cobria sua frágil imagem e experimentar desenhos, riscos ou outras intervenções na sua superfície. Quando vejo certos trabalhos feitos em época comum a este equipamento, observo a beleza intrigante destes quadros iluminados que muito lembram fotografias realizadas nos anos 70 e 80 com cores esmaecidas como se essas fossem as cores do mundo naquelas décadas. Assim, já que não pude realizar imagens em Polaroid, pelo menos tive o prazer de ver alguns trabalhos realizados com este equipamento e dos quais destaco dois: Instant Light – Tarkovski Polaroids e The Polaroids – André Kertész.

Andrei Tarkovsky, pra quem não sabe, foi um renomado cineasta russo que trabalhou aproximadamente entre 1956 a 1986, ano de sua morte. Um dos seus filmes mais conhecidos, Solaris, é uma ficção científica cheia de divagações filosóficas. Além da Infância de Ivan, Espelho, Andrei Rublev entre outros trabalhos importantes. Escreveu Esculpir o Tempo, que trata de reflexões feitas acerca do seu modo de ver e trabalhar o cinema em relação ao tempo.



Este trabalho traz uma série de fotos feitas entre 1979 e 1984, parte na Rússia e parte na Itália. É um trabalho maravilhoso, extremamente poético na qual é possível sentir o silêncio e o tempo paralisado. Retratos e naturezas mortas belíssimas com um tom melancólico e misterioso que a própria tonalidade parece despertar. Entre cores quentes e frias, as sombras tomam um ar de um tempo interior singular, próprio. 



Segue abaixo uma amostragem:

   

     

















André Kertész, fotógrafo húngaro da era da linha de ouro de Bresson, trabalhou como fotojornalista em Paris e depois em New York onde morou até a sua morte. Tem um extenso trabalho de fotojornalismo e alguns outros de corpos e silhuetas deformadas em espelhos. Todos feitos em P&B. Trabalhos bem diferentes entre si, mas ambos muito interessantes. 







Neste livro, Kertész apresenta um primoroso trabalho intimista feito em seu apartamento que inclui autorretrato, retratos e diversas naturezas mortas com objetos translúcidos. Muitos dos quais colocados na janela de seu apartamento. Kertész faz uso renovado de deformações. Além de algumas referências a mulher recém falecida. As cores aqui são mais intensas do que o trabalho de Tarkovsky, embora, com a mesma carga emotiva e delicada. Certo romantismo, no caso de Kertész, perpassa todo o trabalho como a um sonho.



Segue abaixo uma amostragem:

                                                     




























Há sites tratando desses livros de forma mais detalhada. Vale a pena dar uma olhada!
#ficadica...




















segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Impressões sobre Cinema: A Insustentável Leveza do Ser


O Peso em A Insustentável Leveza do Ser

Título original: (The Unbearable Lightness of Being)
Lançamento: 1988 (EUA)
Direção: Philip Kaufman
Atores: Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche, Lena Olin, Derek de Lint.
Duração: 160 min
Gênero: Drama

* dados retirados do site:

Baseado no romance de Milan Kundera, o enredo do filme “A Insustentável Leveza do Ser” gira em torno do triângulo amoroso Tomas—Sabina—Tereza em meio a conflitos políticos da época (1968) em que a URSS tenta impor o sistema comunista aos tchecos.
Tomas (Daniel Day-Lewis) é um neurocirurgião conceituado que reside e trabalha em Praga e tem como filosofia de vida, viver para o prazer com liberdade, mas para que isso ocorra não se compromete com ninguém. Assim, pode ter as mulheres que desejar sem prender-se a nenhuma. Da mesma maneira, age Sabina (Lena Olin), uma artista plástica, que vive para a arte, para a liberdade e independência. Juntos vivem um romance baseado no sexo, porém sem nenhum tipo de apego sentimental. Em contra partida, surge Tereza (Juliette Binoche), uma garota do interior, que surpreende de algum modo Tomas pelo jeito natural e alegre de ser e, ao mesmo tempo, intrigante, pois sua espontaneidade é fora do normal para o convívio comum de Tomas.
Todo o ambiente, principalmente, em torno de Sabina é extremamente simbólico e reflete a personalidade das personagens. Por meio de vários e exóticos espelhos é possível ver a imagem de Tomas e Sabina refletida numa atitude egocêntrica. Tomas é reflexo de Sabina e vice-versa, pois conduzem a vida da mesma forma programada e previamente construída para a atração do ego. O espelho representa Narciso, um apaixonado pela própria imagem, aqui representa Tomas e Sabina seguindo a mesma perspectiva. Além disso, o chapéu de Sabina possui grande valor na trama. Ele é usado por ela apenas na presença de Tomas que, inclusive, é o único que o admira. Ele simboliza o poder, o domínio e a decisão que Sabina exerce sobre os outros. Características consideradas masculinas. Agindo como homem, ou seja, vivendo plenamente, Sabina escapa do mundo submisso e frágil da mulher. A cor preta tanto do chapéu quanto da roupa usada por ambos pode relacionar-se com a segurança, com a superioridade e respeito que Tomas e Sabina querem demonstrar com suas ações. Entretanto, o chapéu incomoda Franz (Derek De Lint), um jovem que Sabina conhece na Suíça. E é interessante observar o relacionamento entre Franz e Sabina, pois Franz surpreende-se com o jeito de ser de Sabina, pois ela o domina e o desarma. O ponto alto da trama é, exatamente, o fim da relação entre eles. Franz deixa a mulher e Sabina o abandona quando percebe que o envolvimento fica cada vez mais forte. Assim, mais uma vez, muda de moradia da mesma fora que muda de relação. Segundo ela, “Tento não me ligar a lugares e pessoas”. Essa situação resume toda a personalidade de Sabina e, por conseguinte, de Tomas, porque nenhum dos dois é capaz de amar até o fim; o medo da responsabilidade e do relacionamento profundo e o egocentrismo exagerado são maiores que qualquer ouro sentimento. Por isso, sempre estão fugindo da possibilidade de compromisso.


Por trás do vasto simbolismo do enredo há também a premeditação dos atos de um caçador. Basta observar como Tomas faz com que a atenção de Tereza seja desviada para ele. Tomas não aparenta demonstrar interesse por Tereza, mas faz com que ela se interesse por ele a ponto de procurá-lo em sua casa. Tereza é simples e age naturalmente, sem premeditação. Essas características atraem Tomas, bem como, a sua coragem e a sua determinação. Todavia, ela é a única que consegue aos poucos trazer Tomas para o seu mundo, mas para isso ela acaba sentindo o peso das constantes traições do marido (Tomas). Num ato extremo tenta agir como ele, mas não consegue, pois não é de sua natureza ter tamanha “leveza do ser”. Ela se considera fraca diante de atitude leve de Tomas. Ao poucos, a obscuridade do ser de Tomas começa a refletir-se em Tereza: as suas roupas, antes coloridas, passam a ser escuras como as de Tomas. Nesse ínterim, ocorre também a invasão russa e Tereza fotografa os acontecimentos. As imagens de violência e protesto são simbolizadas pelo ecrã preto e branco. Outro artifício simbólico que atua para fortalecer o clima sombrio da trama. Nesse momento tenso, Tomas pede a Sabina que ajude Teresa com trabalho, e é interessante perceber como Sabina e Tereza atraem-se mutuamente. Dão-se bem a ponto de fotografarem-se e, de desnudarem-se externa e internamente de modo que Tereza consegue perceber Tomas no corpo de Sabina. Assim, como Tomas,  Sabina também se vê obrigada a observar as peculiaridades de Tereza.
Em um dado momento, Tereza compara seu amor por sua cachorrinha e ao que tem por Tomas e, dessa forma, dá um panorama do amor ideal (Karenin) e do amor repleto de percalços (Tomas): “Fui forçada a amar minha mãe. Mas este cão, não. Talvez eu a ame mais que a você, Tomas. Não mais. De uma maneira melhor. Não quero que ela seja diferente, não peço nada em troca para ela”. Obrigados a viver no campo já que Tomas não deseja ceder as pressões do sistema, ao poucos, Tereza e Tomas vão alcançando uma plenitude amorosa que o afasta dos antigos vícios. Sabina, a muito muda para os EUA e vive como sempre, admirada por sua arte e sua forma dominadora, porém solitária.
Todos os símbolos do enredo exercem uma função de comunicação mais forte que as próprias palavras. Desde a primeira cena (a parede gasta e forte em um ambiente escuro que parece indicar a personalidade de Tomas e Sabina), ao nº 6 da porta de Tomas e do quarto em que Tereza e Tomas ficaram posteriormente (que tem como alguns dos significados numerológicos união e família), o chapéu, que em dado momento é negado por Tomas (cena em que o agente do Ministério tenta arrebatá-lo de sua posição) até a última cena  (o caminho iluminado em que Tereza e Tomas estão voltando para casa depois da chuva) existe um grande repertório psicológico indicado pelo simbolismo.
Bem, mais um filme que adorei e que tento dar um parecer pessoal para incentivar a verem!! E nas minhas buscas por imagens do filme acabei achando este blog que também trata do filme sob outro aspecto ou ponto de vista (há vários sites sobre, aliás):

#ficadica para quem não viu e para quem viu, rever!!!



sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Impressões sobre Cinema: Colcha de Retalhos



Colcha de Encontros e Desencontros

Título original: (How to Make an American Quilt)
Lançamento: 1995 (EUA)
Direção: Jocelyn Moorhouse
Atores: Wynona Ryder, Anne Bancroft, Ellen Burstyn, Kate Nelligan.
Duração: 116 min
Gênero: Drama

* dados retirados do site http://www.adorocinema.com/filmes/colcha-de-retalhos/

O filme Colcha de Retalhos não é um filme muito conhecido, tão pouco sua diretora de origem australiana Jocelyn Moorhouse. Todavia é um filme de extrema beleza e repleto de representações metafóricas a respeito da condução das vidas ali apresentadas.
Finn (Wynona Ryder) é uma universitária de Berkeley que vai passar uma temporada na casa da avó (Ellen Burstyn) para finalizar a tese de mestrado e de quebra pensar na proposta de casamento de Sam (Dermot Mulroney). Lá revê uma série de pessoas que formam uma espécie de clube comandado por Anna (Maya Angelou) no qual se criam colchas de retalhos. Durante a feitura de uma colcha que lhe será presenteada, Finn ouve e revive com suas narradoras a história de amor de cada uma. Assim, temos Anna e o amor por sua filha, Marianna e o amor por um desconhecido, Glady e a traição da irmã e do marido que desencadeou a construção de uma parede repleta de cacos de bibelôs e objetos de decoração quebrados e jogados em momentos de raiva, Hy e a culpa por ter traído a irmã, Sophia e o descuido do marido por tê-la separado do seu grande hobby, o mergulho, e de todas as possibilidades que a vida poderia lhe proporcionar, Em e a dor das continuas traições do marido artista e Constance e o casamento harmonioso e seu amado cachorro. Aí temos o primeiro enlace simbólico: onde está o amor para cada uma é o tema da colcha em construção, ou seja, cada retalho é a experiência vivida por cada personagem. Todas as histórias, com exceção de Constance, cujo retalho não harmoniza com o restante do grupo, são repletas de dor e de finais não muito felizes em relação à realização do amor. Nas idas e vindas de cada história, Finn tenta organizar sua cabeça na tentativa de finalizar a tese, cujo tema já havia mudado várias vezes, bem como definir Sam em sua vida. Para complicar a já confusa Finn, surge Leon, um sedutor fazendeiro que passa a cercá-la. A união de todas as histórias, representada pela colcha, ajuda Finn aos poucos a resolver seus dilemas: casar com Sam ou viver uma aventura com Leon, finalizar sua tese ou começar outra. Toda essa dificuldade parece revelar que seu grande problema é conseguir terminar algo em sua vida, além de ter coragem de enfrentar novos desafios que vão surgindo. Da mesma forma, a união de todos os retalhos e a revisitação de todas as histórias ajudam a solucionar feridas antigas em cada uma das personagens. Enquanto isso não ocorre, uma personagem inusitada surge mudando todos os destinos e reconstruindo cada personagem: o vento. Uma enorme ventania espalha a tese de Finn e, ao tentar ajudá-la, todas as personagens enfrentam seus alinhavos mal resolvidos. O vento tira tudo do lugar. Dessa forma, o que existia não mais cabe em suas vidas. Finn daí tem que reorganizar sua tese e acha, por meio de um novo rearranjo, o caminho de seu trabalho. Por sua vez, Glady não acha mais lugar para os cacos caídos da parede, símbolos de sua raiva. Sophia, para resgatar algumas das folhas da tese de Finn, entra no laguinho que o marido lhe havia feito pouco antes de abandoná-la, Em perde a chave do carro no momento em que decide abandonar o marido. Enfim, Saturno parece representado pelo vento para precipitar as mudanças necessárias. Depois de tudo, Finn acorda envolvida em sua colcha, ou seja, em todas as histórias, e segue seu caminho mais consciente e certa do que quer. O grande mergulho de Sophia na piscina finaliza essa bela história que poderíamos associar ao aprofundamento e à coragem necessários para fazer escolhas.


Um filme regado de muito simbolismo que vale conferir: a colcha representa o amor na vida das personagens, o vento a mudança, os morangos a sedução de Leon e a água o aprofundamento. Além de cada retalho como índice de cada história relatada. Muitos outros a conferir no filme.
Poderíamos resumir o filme pela explicação de Anna sobre como fazer uma colcha de retalhos: “Para fazer uma colcha é preciso escolher as combinações com cuidado. Se escolher bem, realça a obra. Se escolher mal, as cores vão parecer mortas e esconder a beleza. Não há regras a seguir. Tem que seguir o instinto e ser corajosa”
Um filme para todos, mas com grande apelo à alma feminina.
Bem, este filme, que foi indicação de uma professora, arrebatou-me na época da faculdade e sempre que posso indico. Esse texto é um ponto de vista que pode ser enriquecido com os comentários de todos os visitantes do blog. Por favor, comentem.

#ficadica para quem não viu e para quem viu, rever!!!