A Poética Delicada de Sokúrov
Pai e Filho
Título Original:
Otets i syn (Rússia 2003)
Diretor: Aleksandr
Sokúrov
Elenco: Andrei
Shchetinin, Aleksei Nejmyshev, Aleksandr Razbash, Fyodor Lavrov
*dados
retirados de http://loja.russica.com.br/filmes/tema-russia/dvd-pai-e-filho-de-alekander-sokurov-russo-frete-gratis.html
O
filme utiliza tons de sépia e quase sempre luzes laterais basicamente vindas
através de janelas e com sombras claramente marcadas, todavia, com suavidade. Há
poucos diálogos e uma grande ênfase nos elementos visuais criando quase um
processo telepático de entendimento entre pai e filho. O vínculo é tão forte
que a namorada do rapaz (Aleksei) percebe que não pode competir com o amor
paternal e, assim, o trai. A relação do casal se dá entre uma janela ou uma sacada
que os separam. Assim, nunca há uma aproximação física entre eles, ao contrário
da relação entre Aleksei e seu pai, que continuamente se tocam. Aos poucos, pai
e filho, se revezam no ciúme e no seu oposto, a necessidade de liberdade. “O
amor de pai crucifixa e o filho que ama deixa-se crucificar.” Essa parece ser a
frase central que dirige todo o enredo e é pronunciada pelo filho em conversa
com o pai. E é reforçada pelo comentário do amigo de Aleksei que perdeu o pai
em combate: “Sim, você tem um pai. Mas nem sequer te invejo”.
Assim,
tanto o pai quanto o filho vão em busca de se libertar da dependência
psicológica criada pelo tipo de vínculo familiar. Todo o filme é revestido por
imagens belíssimas interiores e exteriores, as luzes das janelas, das ruas e
vistas da cidade (Lisboa, aliás). As personagens olham em diversos momentos
diretamente para câmera criando uma intimidade entre o espectador e a
narrativa. Dessa forma, muitos olhares, proximidades físicas, e silêncios
tornam o filme uma obra prima da poética cinematográfica. Além da delicadeza em
tons difusos que carrega uma sensação continua do onírico ao longo da trama
contido na cena inicial em que Aleksei sonha.
Bem, adoro Sokúrov, é um
grande poeta da sétima arte...