domingo, 1 de janeiro de 2012

Impressões sobre Cinema: Pai e Filho

A Poética Delicada de Sokúrov
Pai e Filho
Título Original: Otets i syn (Rússia 2003)
Diretor: Aleksandr Sokúrov
Elenco: Andrei Shchetinin, Aleksei Nejmyshev, Aleksandr Razbash, Fyodor Lavrov
*dados retirados de http://loja.russica.com.br/filmes/tema-russia/dvd-pai-e-filho-de-alekander-sokurov-russo-frete-gratis.html

A relação parental próxima entre pai e filho é o tema abordado pelo filme Pai e Filho de Aleksandr Sokúrov, cineasta russo da atualidade e descoberto por Tarkovski.  É o segundo filme da trilogia sobre relações familiares do diretor, o primeiro foi Mãe e Filho. Seu filme mais conhecido, Arca Russa, com uma maravilhosa atmosfera onírica, ficou conhecido por não haver corte de cenas, foi filmado em plano único, contínuo. De forma extremamente poética, o filme Pai e Filho retrata uma relação de grande proximidade amorosa, física e erótica entre um filho de 20 anos e um pai de 37 anos. 

O filme utiliza tons de sépia e quase sempre luzes laterais basicamente vindas através de janelas e com sombras claramente marcadas, todavia, com suavidade. Há poucos diálogos e uma grande ênfase nos elementos visuais criando quase um processo telepático de entendimento entre pai e filho. O vínculo é tão forte que a namorada do rapaz (Aleksei) percebe que não pode competir com o amor paternal e, assim, o trai. A relação do casal se dá entre uma janela ou uma sacada que os separam. Assim, nunca há uma aproximação física entre eles, ao contrário da relação entre Aleksei e seu pai, que continuamente se tocam. Aos poucos, pai e filho, se revezam no ciúme e no seu oposto, a necessidade de liberdade. “O amor de pai crucifixa e o filho que ama deixa-se crucificar.” Essa parece ser a frase central que dirige todo o enredo e é pronunciada pelo filho em conversa com o pai. E é reforçada pelo comentário do amigo de Aleksei que perdeu o pai em combate: “Sim, você tem um pai. Mas nem sequer te invejo”.

Assim, tanto o pai quanto o filho vão em busca de se libertar da dependência psicológica criada pelo tipo de vínculo familiar. Todo o filme é revestido por imagens belíssimas interiores e exteriores, as luzes das janelas, das ruas e vistas da cidade (Lisboa, aliás). As personagens olham em diversos momentos diretamente para câmera criando uma intimidade entre o espectador e a narrativa. Dessa forma, muitos olhares, proximidades físicas, e silêncios tornam o filme uma obra prima da poética cinematográfica. Além da delicadeza em tons difusos que carrega uma sensação continua do onírico ao longo da trama contido na cena inicial em que Aleksei sonha.

Bem, adoro Sokúrov, é um grande poeta da sétima arte...

#ficadica