Poucas
foram as vezes que dei atenção a Polaroid e me arrependi amargamente, pois
hoje, com o seu desaparecimento, não posso experimentar esta, diria, precursora
do instantâneo digital... A Polaroid, diferente das digitais, trazia o
resultado já impresso em uma “janela” plastificada em cores tênues, com um
espaço em branco na parte inferior da foto, que se tornou símbolo da
Polaroid... Hoje podemos encontrar programas que tem a intenção de deixar as
fotos com a mesma tonalidade e no mesmo formato da Polaroid. Além de toda a
tecnologia digital que existe hoje e que cria e faz o novo com cara de antigo e
vice-versa. Muitas brincadeiras eram possíveis com essas fotos, pois era fácil
tirar a película plástica que cobria sua frágil imagem e experimentar desenhos,
riscos ou outras intervenções na sua superfície. Quando vejo certos trabalhos
feitos em época comum a este equipamento, observo a beleza intrigante destes
quadros iluminados que muito lembram fotografias realizadas nos anos 70 e 80 com
cores esmaecidas como se essas fossem as cores do mundo naquelas décadas.
Assim, já que não pude realizar imagens em Polaroid, pelo menos tive o prazer
de ver alguns trabalhos realizados com este equipamento e dos quais destaco
dois: Instant Light – Tarkovski Polaroids e The Polaroids – André Kertész.
Andrei
Tarkovsky, pra quem não sabe, foi um renomado cineasta russo que trabalhou
aproximadamente entre 1956 a
1986, ano de sua morte. Um dos seus filmes mais conhecidos, Solaris, é uma
ficção científica cheia de divagações filosóficas. Além da Infância de Ivan,
Espelho, Andrei Rublev entre outros trabalhos importantes. Escreveu Esculpir o
Tempo, que trata de reflexões feitas acerca do seu modo de ver e trabalhar o
cinema em relação ao tempo.
Este
trabalho traz uma série de fotos feitas entre 1979 e 1984, parte na Rússia e
parte na Itália. É um trabalho maravilhoso, extremamente poético na qual é
possível sentir o silêncio e o tempo paralisado. Retratos e naturezas mortas
belíssimas com um tom melancólico e misterioso que a própria tonalidade parece
despertar. Entre cores quentes e frias, as sombras tomam um ar de um tempo
interior singular, próprio.
Segue abaixo uma amostragem:
André
Kertész, fotógrafo húngaro da era da linha de ouro de Bresson, trabalhou como
fotojornalista em Paris e depois em
New York onde morou até a sua morte. Tem um extenso trabalho
de fotojornalismo e alguns outros de corpos e silhuetas deformadas em espelhos. Todos
feitos em P&B. Trabalhos bem diferentes entre si, mas ambos muito
interessantes.
Neste
livro, Kertész apresenta um primoroso trabalho intimista feito em seu
apartamento que inclui autorretrato, retratos e diversas naturezas mortas com
objetos translúcidos. Muitos dos quais colocados na janela de seu apartamento. Kertész
faz uso renovado de deformações. Além de algumas referências a mulher recém
falecida. As cores aqui são mais intensas do que o trabalho de Tarkovsky,
embora, com a mesma carga emotiva e delicada. Certo romantismo, no caso de
Kertész, perpassa todo o trabalho como a um sonho.
Há
sites tratando desses livros de forma mais detalhada. Vale a pena dar uma
olhada!
#ficadica...
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